Guardando o coração em momentos de devoção.
Você tem guardado seu coração nesses momentos? Ou será que seu coração tem sido atacado e você não tem se quer percebido? Como anda a nossa vida privada com Deus? Será que nós temos obedecido nosso Senhor quando nos manda buscar em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça e todas as coisas (o que comer, o que beber ou com que se vestir) seriam acrescentadas.
Buscar em primeiro lugar o reino de Deus
Muitas igrejas e muitas pessoas acreditam que essa expressão signifique algo como "Assim que você se acordar, a primeira coisa que você deve fazer é ler a bíblia e orar". Se conseguirmos fazer isso excelente! Sem sombra de dúvidas começar o nosso dia no nosso devocional com Deus é uma das melhores coisas que podemos fazer! Mas dizer que esse texto diz isso é simplificar (e muito) o texto.
Jesus em Mt 6:33 estava falando sobre as preocupações da vida, sobre como andar ansioso por elas é tornar o problema ainda maior, já que não há nada que possamos fazer para com todos os nossos cuidados, para cuidar da nossa vida. Quem cuida da nossa vida, não somos nós, nem as velhinhas fofoqueiras da rua. Quem realmente cuida de nós é o nosso Pai que está nos céus. Por isso, viver ansioso com essas coisas é idolatrar o problema, é dizer que Deus não é um Pai cuidadoso e que é através da força do nosso braço que vamos alcançar todas essas coisas.
Jesus diz que muito pelo contrário, não devemos buscar com a força do nosso braço, a solução do homem é sempre uma solução tendenciosa ao pecado, mas devemos confiar em Deus e nos preocuparmos com o seu reino eterno, bastando assim as preocupações de cada dia e o mal de cada dia.
Será que nosso coração tem sido atacado nesses momentos?
Com isso em mente, eu retorno a pergunta, será que nossos corações estão descansados em Deus ou será que nos momentos devocionais o nosso coração não tem sido guardado? Ao entrarmos na presença do SENHOR estamos diante do Deus de toda a glória. Se na época dos imperadores aparecer diante deles de qualquer jeito traria consequências terríveis, incluindo a morte. Imagine então aparecer de qualquer jeito diante do Rei dos reis e do Senhor dos senhores?
¹ Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal.
Eclesiastes 5:1
²³ Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.
Provérbios 4:23
Oração do sono
Divagação na leitura bíblica devocional
Pedir outros exemplos
Isso é um sintoma muito pior!
Se a nossa mente divaga na oração ou na leitura devocional, será que ela fica firme na hora da pregação? Quantas vezes não estamos no culto, diante da Palavra de Deus sendo exposta, mas o nosso coração já está na segunda-feira, pensando no trabalho, nas contas ou até mesmo no almoço que vem depois do culto?
Isso mostra que o problema é muito mais profundo. Se não conseguimos guardar o coração nem quando a Palavra está sendo pregada, o que dizer do resto da nossa vida? A distração no momento da pregação e dos devocionais não é apenas falta de atenção — é um sinal de que o coração está cativo a outras coisas.
Na prática, isso significa que, mesmo ouvindo a Palavra, não permitimos que ela produza fruto em nós. O coração distraído é como o solo com espinhos da parábola do semeador (Marcos 4:18-19): a semente até cai, mas logo é sufocada pelas preocupações da vida.
E quais são essas preocupações?
Durante a pregação estar mais ansioso com as notificações do celular do que com a voz de Deus.
A pessoa que passa todo o sermão pensando em como vai pagar aquela conta atrasada.
O coração que, em vez de se render diante da Palavra, fica planejando mentalmente os próximos passos do trabalho, dos estudos ou até do lazer.
Percebe como isso afeta diretamente o dia a dia? Quando deixamos de guardar o coração, acabamos confiando na força do nosso braço para resolver os problemas. É como se disséssemos a Deus: “Deixa comigo, eu sei o que estou fazendo”. Só que, na prática, quanto mais tentamos segurar tudo sozinhos, mais nos enrolamos.
Tentamos resolver a ansiedade com excesso de trabalho, e acabamos exaustos.
Tentamos resolver a solidão buscando em pessoas aquilo que só Cristo pode suprir, e acabamos decepcionados.
Tentamos resolver os medos fazendo planos e mais planos, mas a vida insiste em nos mostrar que não temos controle de nada.
E a ironia é que, em vez de aliviarmos o peso, ficamos ainda mais sobrecarregados. O fardo do homem é sempre mais pesado, mas o de Cristo é leve (Mateus 11:28-30). O coração que não é guardado na pregação e nos devocionais acaba perdendo a oportunidade de descansar em Deus e sai do culto igual ou até pior do que entrou.
Não guardar o coração durante a pregação é como desperdiçar o remédio que Deus preparou para curar a nossa alma. A Palavra é o alimento que sustenta a fé, mas se a desprezamos, enfraquecemos ainda mais. E no final, descobrimos que o que mais precisávamos não era confiar em nós mesmos, mas aprender a descansar no cuidado do nosso Pai.
Qual o real problema?
Até aqui vimos como nossa mente divaga tanto no devocional quanto no culto, mas precisamos ir mais fundo: qual é a raiz de tudo isso? O problema não é simplesmente falta de foco, mas algo muito mais profundo — mundanismo.
Lá na introdução eu falei sobre “entrar” na presença de Deus, e ninguém achou estranho. Mas será que nós realmente “entramos” na presença dEle? A verdade é que não. Nós já estamos, o tempo todo, diante da face de Deus — Coram Deo. Viver Coram Deo significa reconhecer que não existe um só segundo da nossa vida em que não estamos diante do Senhor.
E é justamente aí que o mundanismo mostra sua força. Porque se estivéssemos conscientes de que estamos sempre diante de Deus, será que trataríamos nossos devocionais, nossas orações e até mesmo nossas preocupações do dia a dia da forma como tratamos? O mundanismo nos faz esquecer que o mundo é do Senhor e que a vida inteira é culto. Ele cria uma ilusão: a de que Deus só está presente em momentos “espirituais”, como culto ou oração, enquanto no resto da vida estamos por nossa própria conta.
No último livro que estudamos juntos, Cartas de um diabo a seu aprendiz, Lewis mostrou como o inimigo trabalha com distrações sutis para afastar o coração da devoção sincera. Agora, imagine se Lewis estivesse vivo e escrevesse uma continuação moderna chamada “Zaps de um diabo a seu aprendiz”. O enredo provavelmente mostraria como os demônios já não precisam sequer sugerir tentações específicas, porque o mundanismo já se tornou automático.
Em uma dessas cartas em forma de zap, talvez o diabo dissesse ao seu aprendiz algo como:
“Os avanços que fizemos com o mundanismo foram tão grandes que não precisamos mais nos dar ao trabalho de colocar imagens, ideias ou tentações diante dos homens. Eles mesmos se tornaram os seus próprios tentadores. Suas mentes ansiosas já fazem todo o trabalho por nós, alimentando preocupações, comparações e desejos sem que precisemos mover um dedo.”
E não é exatamente isso que vemos? Antes, a tentação exigia uma isca. Hoje, o mundanismo já vem de fábrica. Ele é o piloto automático do coração humano. Quando não estamos conscientes de viver diante de Deus, passamos a viver diante do mundo, medindo tudo pelas suas preocupações e padrões.
E o resultado é que mesmo quando ouvimos a Palavra, nosso coração se recusa a entregá-la totalmente a Cristo. Chegamos diante do Senhor sobrecarregados, mas nos recusamos a tomar o Seu fardo leve e o Seu jugo suave (Mateus 11:28-30). É como se disséssemos: “Senhor, eu até oro, eu até te busco, mas os meus problemas são meus. Eu não confio que Tu vais cuidar deles, então eu mesmo vou tentar resolver.”
No fundo, o mundanismo é isso: a recusa em confiar que nosso Pai é bom. É permitir que os espinhos deste mundo sufoquem a semente do evangelho no coração (Marcos 4:18-19). É transformar preocupações em ídolos e confiar no braço da carne, quando deveríamos descansar na fidelidade de Deus.
Por isso, o problema não é apenas distração ou cansaço. É idolatria. É viver como se estivéssemos sozinhos, quando na verdade estamos sempre Coram Deo, sempre diante do olhar do Deus vivo.
Como resolver?
Dividir em grupos (se der tempo) e pedir soluções.
Depois de tudo isso, surge a pergunta inevitável: o que fazer, então? Como guardar o coração diante de tantas distrações, ansiedades e pressões do mundo?
A resposta não está em técnicas de concentração, em desligar o celular ou em criar um “ambiente perfeito” para o devocional — ainda que essas coisas possam ajudar. A verdadeira resposta está em reconhecer que toda a nossa vida é culto a Deus. Não existe um momento “sagrado” e outro “profano”. Não existe “entrar” na presença de Deus porque já estamos, sempre, Coram Deo.
A solução para o mundanismo não é simplesmente “fazer mais coisas espirituais”, mas viver de modo que cada coisa seja feita para o Senhor. Paulo disse:
“Quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus.”
(1 Coríntios 10:31)
Isso significa que quando trabalhamos, estudamos, descansamos ou até rimos com amigos, estamos diante de Deus. E se tudo é diante dEle, tudo deve ser para Ele.
Exemplos bíblicos de corações guardados
Maria (Lucas 10:38-42), que escolheu estar aos pés de Jesus enquanto Marta se perdia nas preocupações. Ela entendeu que o essencial era guardar o coração em Cristo.
Daniel, que manteve sua prática de oração mesmo cercado por pressões políticas e ameaças de morte. Ele não negociou seu coração com as preocupações deste mundo.
Davi, que transformava suas angústias em cânticos, fazendo de cada dor uma oração. Ele não deixava o coração vagar sozinho, mas o trazia de volta para descansar em Deus.
Aplicações práticas
Reconheça seus ídolos ocultos. Onde seu coração divaga? Dinheiro? Aparência? Relacionamentos? É ali que o mundanismo tem espaço.
Ore de forma honesta. Não tente fingir diante de Deus. Se está ansioso, diga: “Senhor, meu coração não está guardado, mas eu quero que Tu o guardes.”
Submeta cada preocupação a Cristo. Paulo nos ensina: “Não andeis ansiosos... antes sejam conhecidas diante de Deus todas as vossas petições” (Filipenses 4:6-7). A promessa é clara: a paz de Deus guardará o nosso coração.
Transforme o cotidiano em culto. Não espere apenas o momento devocional. Quando for estudar, diga: “Senhor, este estudo é para a Tua glória.” Quando for descansar, diga: “Senhor, eu descanso em Ti.”
O ponto final
Guardar o coração não é viver isolado do mundo, mas viver nele sem ser dominado por ele. É reconhecer que o mundanismo é pesado, mas o fardo de Cristo é leve. É entender que não somos capazes de vigiar nosso coração sozinhos — mas Deus prometeu guardar em perfeita paz aquele cujo coração está firme nele (Isaías 26:3).
Portanto, a solução é simples e profunda ao mesmo tempo: abandonar o mundanismo, descansar em Cristo e viver cada segundo da vida como culto diante do Senhor. Essa é a única maneira de ter um coração realmente guardado.