Juízo Final | Escatologia cósmica
Nesse estudo, não faremos como a "Irmã" Nadir que já soma incontáveis vezes de turismo no inferno, mas veremos o que a escritura fala sobre o inferno e o lago de fogo.
Acompanhe também o vídeo desse estudo na ebd:
https://www.youtube.com/watch?v=2dlLXNv1z_k#t=55m27s
Estrutura
Introdução
O juízo final é um assunto POP
Porque estudar sobre o inferno
O evangelho sem inferno
Inferno, Sheol/Hades e Genna
Qual a condenação
O juízo final
Introdução
A escatologia cósmica entende dois destinos finais para o ser humano, o primeiro é a salvação na terra e céu renovados e transformados pelo poder rendentivo da obra de Cristo; O segundo, por sua vez é a condenação eterna no lago de fogo onde todos os infiéis e incrédulos passarão a vida eterna. Veja que em ambas as situações, ou ambos os destinos finais, a imortalidade, ou eternidade é garantida. Nesse estudo procuraremos entender melhor o que a escritura fala a respeito do segundo destino final, o lago de fogo, além de vermos algumas palavras usadas na escritura; como o mundo vê esse tópico; qual a condenação daqueles que estarão lá e as implicações de rejeitar a realidade da condenação eterna.
O juízo final é um assunto POP
Não é nada difícil vermos ao redor do mundo em várias culturas e religiões uma definição de castigo para as pessoas que são ruins, mas a visão mais difundida é uma visão distorcida das verdades apresentadas na bíblia o que leva a ouvirmos pessoas dizendo "Ah eu quero ir para o inferno! Lá tem pagode, samba, rock, cerveja e todos os artistas que eu admiro". Esse é um dos mais trágicos enganos que alguém pode ter em seu coração. Mas não é difícil de encontrarmos o juízo final como um assunto POP! Temos filmes como 2012 e Constantine, Jogos como DOOM, literatura como o inferno de Dante e músicas como Juízo Final de Nelson do Cavaco retratam uma imagem distorcida das verdades bíblicas
Além disso temos, principalmente no meio neo-pentecostal, "profetas" que fazem turismo infernal e lá eles têm visões bem dantescas, onde, assim como Dante descrevia os níveis de tormento do inferno através dos círculos, onde, quanto mais profundo o círculo, pior o sofrimento, também eles falam de locais específicos do inferno para cada "pecado", lá tem, segundo a Nadir vai para o inferno quem:
Entre outras informações que ela tem como a lista atualizada dos famosos que estão lá e até dos que vão para lá no futuro, menos de uma semana atrás ela já tem um vídeo novo trazendo novas visões do inferno! Tirando João que viu de fato o lago de fogo em Ap 21, Deus não levou homem nenhum ao inferno para mostrar como é lá, João incluso. Então se a Nadir está indo para lá em visões com frequência, não é Deus quem está dando essas visões! E muito provavelmente é só uma prévia do destino final dela, se ela não se arrepender dos seus pecados e crer em Cristo.
Não apenas ela, mas nesse meio existem vários que aparecem dizendo que foram e voltaram ou que tiveram visões de lá, bem como igrejas onde a atração principal é o momento de "exorcismo", "quebras de maldições hereditárias", para essas pessoas e essas igrejas, o que não pode faltar no culto é o Diabo, seus anjos e a morada eterna deles, já Jesus e o a salvação eterna ficam em segundo plano
Porque estudar sobre o inferno
Da mesma maneira como essas pessoas e igrejas falham por dar ênfase quase que completa nesses pontos, não podemos nos tornar ignorantes ao que a bíblia fala sobre o inferno, não atoa, o maior pregador sobre a condenação, o juízo e o inferno foi o próprio Jesus. Não com a intenção de causar medo ao coração dos ouvintes, mas para alertar todos que Deus é justíssimo e não irá deixar o pecado impune de maneira nenhuma! A intenção de Jesus e do evangelho não é fazer com que nós desejemos a salvação por medo de ir ao inferno, mas por amarmos tanto a Deus que desejamos passar a eternidade a seu serviço
O evangelho sem inferno
O outro lado da moeda é justamente o universalismo, erro que tem se tornado bastante frequente na atualidade, como podemos ver o Ed Renê Kivitz falando que não crê no Deus que é fogo consumidor. Ele e essas pessoas devem rasgar suas bíblias! Pois:
²⁹ Porque o nosso Deus é um fogo consumidor.
Hebreus 12:29
Sola Scriptura! Numa tentativa errônea de apresentar o evangelho mais palatável eles o tornam o evangelho do Diabo!
Dessa forma, para nos proteger de heresias e evangelizar o evangelho bíblico, devemos ter uma visão clara sobre o que a bíblia fala sobre o inferno e o juízo final
Inferno, Sheol/Hades e Genna
Ao tratarmos sobre o juízo final e a condenação eterna, é importante perceber que a Bíblia usa diversos termos ao longo de suas páginas para falar sobre o destino dos mortos e dos ímpios. Alguns desses termos são traduzidos genericamente como “inferno”, mas possuem nuances diferentes, e entender essas diferenças nos ajuda a compreender melhor o ensino bíblico sobre o tema.
❗ A palavra “inferno” não existe nos originais gregos
Um ponto importante — e muitas vezes desconhecido — é que a palavra “inferno” não existe nos textos originais da Bíblia, nem em hebraico nem em grego.
O termo que usamos hoje é resultado de traduções e interpretações ao longo dos séculos, que acabaram unificando palavras diferentes sob uma única ideia.
Quando lemos a palavra “inferno” nas nossas Bíblias em português, na verdade ela pode estar traduzindo três palavras distintas:
Sheol (hebraico) — o lugar dos mortos no Antigo Testamento;
Hades (grego) — o equivalente grego do Sheol, também um lugar dos mortos;
Geena (grego) — o vale de Hinom, usado por Jesus para falar do castigo final.
A confusão surge porque, em muitas traduções antigas, todas essas palavras foram vertidas simplesmente como “inferno”, o que gerou a ideia de que há apenas um único lugar de punição após a morte. Mas a Escritura faz distinção entre o estado intermediário dos mortos (Hades/Sheol) e a condenação eterna (Geena/Lago de Fogo).
📖 “E a morte e o Hades foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte.”
(Apocalipse 20:14)
Perceba que o texto mostra claramente dois “lugares”: primeiro o Hades, depois o Lago de Fogo.
Logo, o “inferno” como entendemos hoje é uma tradução teológica, não uma palavra original, usada para resumir a ideia da punição eterna e da separação definitiva de Deus.
Saber disso é essencial para não cair em distorções, porque a Bíblia não apresenta o inferno como um símbolo, mas como uma realidade literal e consciente — mesmo que os termos usados para descrevê-lo sejam diferentes.
🕳️ Sheol – O mundo dos mortos (Antigo Testamento)
A palavra Sheol (שְׁאוֹל) aparece com frequência no Antigo Testamento e, em muitos textos, é traduzida como sepultura, morte ou inferno, dependendo da versão. O Sheol era entendido como o lugar para onde iam todos os mortos, tanto justos quanto ímpios.
Não se tratava necessariamente de um lugar de tormento, mas de uma região sombria, silenciosa, um tipo de estado intermediário da morte.
📖 “Porque não deixarás a minha alma no Sheol, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.”
(Salmo 16:10)
Aqui, Davi fala profeticamente sobre Cristo, indicando que o Messias não permaneceria no estado da morte. O Sheol, portanto, representa a condição pós-morte antes da ressurreição, não o inferno final.
⚖️ Hades – A tradução grega de Sheol (Novo Testamento)
No Novo Testamento, o termo equivalente a Sheol é Hades (ᾅδης). Ele mantém o mesmo conceito de “mundo dos mortos”, mas agora com uma distinção mais clara entre os justos e os ímpios.
Jesus usa essa palavra na parábola do rico e Lázaro (Lucas 16:19-31), onde o rico, ao morrer, é levado para o Hades e sofre tormento, enquanto Lázaro é consolado no seio de Abraão. Essa passagem revela que o Hades possui uma divisão: um lugar de consolo e outro de sofrimento.
📖 “E no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio.”
(Lucas 16:23)
Perceba que o Hades não é o lago de fogo final, mas um estado intermediário de consciência após a morte, onde o destino já está definido, embora a sentença ainda não tenha sido executada.
🔥 Geena – O lugar da condenação eterna
A palavra Geena (γέεννα) é a forma grega do hebraico Ge-Hinnom, que significa Vale de Hinom. Esse vale ficava ao sul de Jerusalém e era conhecido como um lugar de idolatria e sacrifício infantil (2Cr 28:3; Jr 7:31).
Com o tempo, o Vale de Hinom tornou-se símbolo do julgamento divino — um lugar impuro, de fogo e destruição — e foi usado por Jesus para descrever o destino final dos ímpios.
📖 “Melhor é para ti entrares na vida aleijado, do que, tendo dois pés, seres lançado na Geena, no fogo que nunca se apaga.”
(Marcos 9:45)
A Geena é o inferno final, o lugar de condenação eterna, não o Hades. É para lá que serão lançados o diabo, seus anjos e todos os que rejeitaram o evangelho de Cristo.
💀 O Lago de Fogo – O destino final
Por fim, o Lago de Fogo é a descrição mais completa e final do juízo eterno, especialmente no livro do Apocalipse.
Ele representa o cumprimento definitivo da sentença divina sobre o pecado e os ímpios. Diferente do Hades, que será esvaziado, o Lago de Fogo é o estado eterno da punição.
📖 “E a morte e o inferno (Hades) foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte.”
(Apocalipse 20:14)
Observe que até o Hades — o lugar temporário dos mortos — será lançado no Lago de Fogo. Isso mostra que a condenação final é irrevogável, eterna e consciente.
🩸 Conclusão do bloco
Esses quatro termos — Sheol, Hades, Geena e Lago de Fogo — não falam todos da mesma coisa, mas descrevem a progressão da revelação de Deus sobre o juízo.
Desde a ideia inicial do mundo dos mortos até o juízo eterno, a Escritura vai revelando, passo a passo, a realidade da condenação e da justiça divina.
E quando unimos tudo, entendemos que o inferno não é apenas um conceito simbólico, mas uma verdade espiritual real.
Qual a condenação?
Quando falamos em juízo final, muitas pessoas imediatamente pensam em uma cena clássica do imaginário popular:
um grande trono branco, todas as pessoas reunidas, e um telão mostrando todos os pecados que cada um cometeu.
Essa imagem é fortemente cultural, alimentada por filmes, músicas e até pregações moralistas, mas não é o que a Bíblia ensina.
A Escritura é clara: o juízo de Deus não é um espetáculo de vergonha pública, mas uma sentença justa e definitiva baseada na relação de cada pessoa com Cristo.
O que será julgado não é o número de pecados cometidos, mas a condição espiritual diante do evangelho — se houve fé salvadora ou rejeição do Filho de Deus.
📖 “Quem crê n’Ele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.”
(João 3:18)
🙏 O juízo dos crentes
A Bíblia ensina que os crentes também comparecerão diante do tribunal de Cristo, mas não para condenação, e sim para prestação de contas e recompensa.
É o que o apóstolo Paulo chama de “Tribunal de Cristo” (ou Bema, em grego):
📖 “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal.”
(2 Coríntios 5:10)
Esse não é um juízo de culpa, mas de fidelidade e mordomia.
Os pecados dos eleitos já foram julgados na cruz — o Cordeiro de Deus levou sobre si a ira que nos era destinada.
Logo, o crente não teme o juízo final, pois nele se cumpre a promessa de Romanos 8:1:
📖 “Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.”
🔥 O juízo dos ímpios
Já os ímpios, isto é, todos aqueles que rejeitaram o evangelho, enfrentarão o julgamento condenatório diante do Grande Trono Branco.
Será o momento em que todas as obras, intenções e palavras serão pesadas à luz da justiça de Deus.
Mas, ainda assim, a condenação não vem apenas das obras más, e sim da rejeição de Cristo — o único nome dado entre os homens pelo qual importa que sejamos salvos (Atos 4:12).
📖 “E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele (...). E foram abertos os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e foram julgados os mortos pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.”
(Apocalipse 20:11-12)
Esses que não foram encontrados no Livro da Vida serão lançados no lago de fogo, o destino eterno de separação e tormento, conforme Apocalipse 20:15.
📜 A fé reformada e o juízo final
Os símbolos de fé reformada reafirmam com clareza o que a Escritura ensina sobre o juízo e a condenação:
Confissão de Fé de Westminster, Cap. XXXIII – Do Juízo Final:
“Deus designou um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de Jesus Cristo (...). Os ímpios, que não conhecem a Deus e não obedecem ao evangelho de Jesus Cristo, serão lançados em tormentos eternos, para serem punidos com destruição eterna, longe da presença do Senhor e da glória do seu poder.”
E quanto aos crentes:
“Mas os justos, revestidos do corpo glorioso, serão publicamente reconhecidos e absolvidos no dia do juízo, e entrarão na plenitude da alegria de Deus por toda a eternidade.”
Perceba que a fé reformada une dois juízos:
O juízo pessoal, que acontece logo após a morte — onde a alma vai imediatamente à presença de Cristo (Lc 23:43), ou ao tormento do Hades (Lc 16:23);
E o juízo final, público e universal, onde corpo e alma serão reunidos e o veredito de Deus será manifestado a toda a criação.
🩸 Conclusão do bloco
O inferno, portanto, não é o resultado de um Deus cruel, mas a expressão da sua justiça perfeita diante de corações que rejeitaram o único meio de salvação.
A condenação não está em pecar, mas em permanecer incrédulo, recusando o arrependimento e a fé em Cristo.
No juízo final, ninguém poderá dizer que não teve oportunidade — e ninguém poderá se justificar.
Por isso, a pregação do evangelho é urgente.
Enquanto há vida, há esperança.
Mas virá o dia em que o Trono Branco será erguido, e toda língua confessará, até mesmo os ímpios, que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
O juízo final | O lago de fogo
Chegamos, então, ao ponto culminante do juízo: o lago de fogo — expressão usada em Apocalipse para descrever o destino final e definitivo dos ímpios, do diabo e de todos os seus seguidores (Ap 20:14–15).
O texto é direto e solene:
“Então a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E aquele que não foi achado inscrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo.”
(Apocalipse 20:14–15)
Aqui, João não está descrevendo meramente o “inferno” como o entendemos culturalmente — ele está falando de algo além do Hades.
O lago de fogo é o estado eterno de condenação, após o juízo final, quando toda injustiça será definitivamente julgada e toda rebeldia será banida da presença de Deus.
Enquanto o Hades representa o estado intermediário dos mortos ímpios (até o juízo final), o lago de fogo representa o veredito eterno, a “segunda morte”, onde não há retorno nem esperança.
A linguagem é simbólica, sim — mas o símbolo é de algo real e terrível: a separação eterna de Deus.
A chama representa o tormento, o sofrimento, a consciência da perda do bem supremo — a presença do próprio Deus.
“Serão castigados com eterna perdição, longe da face do Senhor e da glória do seu poder.”
(2 Tessalonicenses 1:9)
Enquanto isso, os justos, redimidos pelo sangue de Cristo, recebem outro destino: a nova Jerusalém, o novo céu e a nova terra.
Ali, não há mais morte, nem dor, nem pranto, nem maldição (Ap 21:4–5).
A presença que outrora condenava o pecador agora é o consolo do salvo.
E essa é a grande diferença: ambos os destinos são eternos, mas radicalmente opostos — um marcado pela ausência de Deus, outro pela Sua presença plena.
A Confissão de Fé de Westminster também afirma:
“Os ímpios serão lançados nos tormentos do fogo eterno, preparados para o diabo e seus anjos; e permanecerão ali por toda a eternidade, sofrendo castigos inexprimíveis, juntamente com o diabo e seus anjos.
Os justos, porém, entrarão na vida eterna, e receberão aquela plenitude de alegria e refrigério que os olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem subiu ao coração do homem, para desfrutarem plenamente e eternamente da presença do Senhor.”
E é aqui que o ensino pastoral se torna inevitável:
O juízo final não é apenas uma doutrina — é um chamado.
O lago de fogo não é apenas sobre punição, mas sobre a seriedade do pecado e o custo de rejeitar Cristo.
A condenação não é um capricho divino, mas a consequência natural de uma vida voltada contra Deus.
Mas também é verdade que Deus não tem prazer na morte do ímpio (Ez 33:11).
Por isso o juízo final é, ao mesmo tempo, advertência e convite:
Advertência para quem vive indiferente à eternidade, e convite para quem deseja encontrar refúgio em Cristo antes que o trono se torne tribunal.
Em última instância, o lago de fogo nos lembra o valor da cruz.
Porque foi no inferno do Calvário, quando Jesus bradou “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, que o Filho de Deus suportou a condenação que era nossa.
E é por isso que o evangelho é, em si, a boa notícia do juízo:
A sentença já foi dada, e Cristo a cumpriu em nosso lugar.
O juízo final será o fim da injustiça e o início da eternidade perfeita —
mas até lá, seguimos pregando com amor e urgência,
para que ninguém tenha o lago de fogo como destino,
mas Cristo como Senhor e Redentor eterno.
Provas bíblicas contra o aniquilacionismo
O aniquilacionismo (ou “doutrina da extinção”) é a crença de que os ímpios deixarão de existir após o juízo final.
Segundo essa visão, Deus não manteria os condenados em tormento eterno, mas os aniquilaria, extinguindo sua consciência e existência como forma de juízo.
À primeira vista, pode parecer uma doutrina “misericordiosa”, uma forma de aliviar a tensão emocional do inferno eterno.
Mas, biblicamente, ela não encontra respaldo — e, na verdade, contradiz diretamente os ensinos de Jesus e dos apóstolos.
1. Jesus falou de castigo eterno, não de destruição temporária
“E irão estes para o castigo eterno, porém os justos para a vida eterna.”
(Mateus 25:46)
Aqui o termo “eterno” (aiōnios) é usado tanto para o castigo quanto para a vida.
Se quisermos dizer que o castigo é temporário, então, pela mesma lógica, a vida eterna também o seria.
Mas o contraste de Jesus é claro: tanto o galardão quanto a punição são eternos em duração.
2. O fogo não se apaga e o verme não morre
“Onde o seu verme não morre, e o fogo não se apaga.”
(Marcos 9:48)
Essa linguagem é uma citação direta de Isaías 66:24, descrevendo a sorte dos que se rebelam contra Deus.
O fogo inextinguível e o verme imortal simbolizam a continuidade do tormento — algo que permanece, não que cessa.
A imagem é de corrupção constante, não de aniquilação.
3. A “segunda morte” não é o fim da existência, mas o estado de separação eterna
“Esta é a segunda morte: o lago de fogo.”
(Apocalipse 20:14)
A “morte” na Escritura raramente significa aniquilação, mas separação.
A primeira morte separa o corpo e a alma;
a segunda separa o homem de Deus para sempre.
Ou seja: a existência continua, mas privada de toda graça e presença divina.
Se a segunda morte fosse o fim da consciência, não haveria tormento, não haveria juízo, e não haveria justiça plena — apenas esquecimento.
4. O tormento é consciente e contínuo
“E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, para todo o sempre.”
(Apocalipse 20:10)
Note que o texto diz “para todo o sempre” (eis tous aiōnas tōn aiōnōn) — a expressão mais forte de eternidade na língua grega.
E o contexto é de consciência contínua de tormento, não de destruição.
A sentença divina não é uma explosão que cessa a existência, mas um estado de retribuição eterna.
5. A justiça de Deus exige consciência do juízo
Se o ímpio simplesmente deixasse de existir, onde estaria a justiça de Deus?
A destruição imediata não corresponde à gravidade do pecado cometido contra um Deus eterno.
A eternidade do castigo está proporcional à eternidade da ofensa — não em quantidade de atos, mas em qualidade de quem é ofendido.
A Confissão de Fé de Westminster afirma:
“Os ímpios, que não conhecem a Deus e não obedecem ao evangelho de Jesus Cristo, serão lançados nos tormentos eternos e permanecerão ali para sempre, sofrendo castigos inexprimíveis, juntamente com o diabo e seus anjos.”
6. O aniquilacionismo nega a seriedade da cruz
Se o castigo eterno não existe, então Cristo não precisaria suportar tamanha agonia em nosso lugar.
A cruz perde sua dimensão de justiça e redenção substitutiva, tornando-se apenas um gesto simbólico.
“Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele.”
(Isaías 53:5)
Conclusão pastoral
O aniquilacionismo, ainda que pareça piedoso, diminui a gravidade do pecado e o valor da cruz.
Ao negar o tormento eterno, ele nega a justiça de Deus e o chamado urgente do evangelho.
A mensagem bíblica é clara:
Aqueles que estão em Cristo jamais experimentarão a segunda morte,
mas os que o rejeitam permanecerão para sempre sob a justa ira de Deus.
“Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele.”
(João 3:36)
Portanto, o inferno não é um exagero teológico — é o eco da santidade divina.
E todo aquele que contempla sua realidade deve fazê-lo não com curiosidade mórbida, mas com temor reverente e coração missionário,
sabendo que o mesmo Deus que julga eternamente, também salva plenamente todos os que se refugiam em Cristo.
Conclusão
O estudo sobre o juízo final e o inferno não é uma viagem sombria às profundezas do medo — é uma afirmação da santidade, da justiça e da misericórdia de Deus.
O inferno existe, não porque Deus seja cruel, mas porque Ele é justo.
E o céu existe, não porque somos bons, mas porque Cristo é gracioso.
O juízo final será o dia em que a verdade prevalecerá.
Toda injustiça será julgada, todo pecado será revelado e todo joelho se dobrará diante de Jesus, reconhecendo que Ele é o Senhor (Fp 2:10–11).
E enquanto o lago de fogo representa o destino dos que rejeitam a Deus, a nova Jerusalém representa o consolo eterno dos que foram redimidos pelo Cordeiro.
Para o crente, o juízo não é ameaça — é esperança.
Esperança de que o mal terá fim, de que o pecado não vencerá, e de que a cruz triunfará sobre toda condenação.
Mas também é um lembrete: a eternidade é real, e nossas escolhas têm peso eterno.
Pregamos o inferno não para atemorizar, mas para exaltar a cruz;
falamos do juízo não para condenar, mas para chamar ao arrependimento;
e estudamos essas verdades não por curiosidade, mas por amor à verdade e zelo pela glória de Deus.
“E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus.
E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.”
(Apocalipse 21:3–4)
Enquanto o juízo final é o fim de todas as coisas más, é também o início de todas as coisas novas.
E essa é a razão de nossa esperança — que em Cristo, o fogo que consome o ímpio é o mesmo que purifica o justo.
Apêndice: Encerramento da Teologia Sistemática
Com este estudo sobre o Juízo Final, concluímos oficialmente nossa série de Teologia Sistemática, onde caminhamos juntos por meses compreendendo as grandes doutrinas da fé cristã:
A doutrina de Deus e Sua revelação
A pessoa e obra de Cristo
A salvação, o Espírito Santo e a Igreja
As últimas coisas — e o destino eterno de todos os homens
Foi um tempo de edificação, aprendizado e adoração, onde crescemos na graça e no conhecimento daquele que é o centro de toda a teologia: Jesus Cristo, o Alfa e o Ômega.
“Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.”
(Romanos 11:36)
Em breve, daremos início a uma nova série de estudos na EBD, explorando de forma bíblica, prática e devocional um novo tema que fortalecerá ainda mais nossa fé e vida cristã.
Fiquem atentos, participem, estudem e continuem firmes — pois a Palavra de Deus é viva, eficaz e transforma corações.
Soli Deo Gloria!